Oitava Colina

Blog nada a ver, só por distração...

10/21/2006

A feijoada que derrubou o governo


Esse é o título do livro que comentei na aula de Trep - os novos seminários de livros, lembram? - de autoria de Joel Silveira. E vou falar uma coisa, é simplesmente um dos melhores livros que já li!
Joel Silveira foi um dos maiores jornalistas brasileiros nos anos 40, 50, 60 e 70. Atualmente ele está bem idoso, mas mesmo assim continua com uma opinião firme e um comentário afiado (seu apelido era "víbora", justamente pela objetividade e crítica de suas reportagens). Para comprovar o que digo, acessem esse site e confiram uma entrevista que fizeram em 2005: http://www.aol.com.br/revista/materias/2005/0018.adp ; com quase noventa anos, Joel "manda bem" em sua análise da realidade e da história.
História que ele conhece bem, já que esteve em seus principais acontecimentos. Joel Silveira foi correspondente na Segunda Guerra Mundial, entrevistou personalidades políticas, artísticas e literárias de peso como Juscelino Kubischek, Jânio Quadros, João Goulart, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Paulo Mendes Campos, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Monteiro Lobato, Nássara, além de ter feito uma entrevista com os bandidos sobreviventes do bando de Lampião. Só não conseguiu entrevistar direito Getúlio Vargas, mas ainda assim Joel faz muitas observações sobre o governo desse presidente. Esteve, como todo jornalista, arriscando a pele e o emprego na ditadura de Vargas e durante os "anos de chumbo" dos governos militares nos anos 60-70.
Todas essas aventuras e desventuras de Joel Silveira são narradas em A feijoada que derrubou o governo e em A milésima segunda noite da Avenida Paulista; neste último, inclusive, ele escreve alguns artigos sobre a alta sociedade paulista dos anos 40, suas festas, futilidades e vaidades - sempre, é claro, de forma crítica, comparando a vida boa dos empresários com a dura realidade dos operários que sustentavam todo esse luxo.
Enfim... não há espaço pra comentar todas as histórias de Joel Silveira. O que posso dizer para fechar esse assunto é: leiam essas obras porque são excelentes exemplos de jornalismo literário.

.................................

Abaixo alguns trechos, pra vocês sentirem vontade de ler os livros...
"Quanto a mim, confesso, sem modéstia, que se alguma válida consegui fazer em minha função de repórter, devo isso ao estômago de que disponho, uma bolsa de couro curtido onde quase não há lugar para a náusea; e do qual muito raramente sinto a presença. O que não acontece com o coração, embora este esteja há muito tempo calejadíssimo. O fato é que vez por outra ele amolece diante de um fato mais pungente de que fui testemunha. Afinal, coração é para isso mesmo - e se ele não se comove ou não se revolta, que adianta tê-lo?"
"A guerra, como já disse, é cheia de truques, todos nojentos; e um dos mais nojentos é fazer com que alguém que com ela conviveu durante meses acabe sendo condicionado por ela (...). Por isso é que costumo dizer que cheguei à Itália com 26 anos e voltei com quarenta, embora lá só ficasse pouco mais de oito meses. Ao contrário do poeta, não foi exatamente por delicadeza que naqueles quase nove meses perdi uma parte da minha mocidade, ou o que restava dela. A guerra, repito, é nojenta. E o que ela nos tira (quando não nos tira a vida) nunca mais nos devolve."