Oitava Colina

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8/05/2006

Amor, ilusão e loucura - análise de filme

Uma jovem que tem um caso com um homem casado, daqueles que não decidem se deixam a esposa ou não, faz o que pode e o que não deve para viver esse amor. Essa é a história de Angélique. Ou, pelo menos, é isso o que ela pensa... e que o espectador supõe, até um certo ponto do filme Bem me quer, mal me quer (A La Folie... Pas Du Tout, França, 2002. Direção: Laetitia Colombani). Se quem estiver lendo este texto não viu o filme ainda, se prepara que lá vem spoiler (ou seja, vou estragar a surpresa...).
Nos primeiros minutos do filme, achamos que será mais uma típica história de romance não correspondido, ao acompanharmos o esforço de Angélique (Audrey Tatou) em ter o médico Loic (Samuel Le Bahin) só pra ela, ainda que este seja casado com uma bela advogada e esteja prestes a ter seu primeiro filho. Angélique tem esperança que ele abandone tudo por ela, tem a absoluta convicção de que ele também a ama, embora seus amigos a aconselhem de que ele é um canalha que irá deixá-la de lado. E nós também acreditamos que o doutor Loic é um tratante.
De início, Angélique tenta conquistar o médico com flores, recados, bilhetes, pinturas. Depois, precipita-se em mandar a chave de sua casa e uma passagem de avião - crente de que ele fugirá com ela. Mas, à medida em que seus presentes não conseguem o efeito desejado, chega a atos extremos, como atropelar a esposa do médico para que ela aborte e assassinar uma paciente que o acusa de agressão. Preso injustamente como suspeito desse assassinato, Loic é amparado pela mulher. Ao presenciar isso, Angélique tenta o suicídio. E é aqui que a história retorna ao seu início, mas sob um novo olhar: o do doutor Loic. E tudo começa a fazer sentido...
Na verdade, Loic não ama Angélique. Aliás, nem a conhece!! Mas da maneira como os fatos reais são dispostos no início do filme, o espectador acredita que haja mesmo um romance sério entre os dois. Mas a partir do momento em que esses fatos são vistos de perto, percebemos que o que realmente existe é uma ilusão romântica que evolui para o despertar do que há de mais sinistro em Angélique (que se revela uma portadora de um distúrbio psicológico inofensivo a princípio e grave no final), levando à ruína pessoal e profissional de Loic.
A grande reflexão que se faz desse filme - sobretudo para quem está no ramo do jornalismo - é que a verdade nem sempre é aquilo que aparenta, e que um determinado fato possui mais de uma versão - e uma delas é a certa. No caso do filme, se um repórter for investigar o caso entrevistando somente um dos amigos de Angélique, ele acreditará - e pior, publicará - a versão que houve um caso de amor mal resolvido. Mas se ele, além disso, investigar todos os lados envolvidos, verá que houve um equívoco causado por uma mente doente, de uma jovem que pensou encontrar o homem de sua vida só porque este lhe deu uma flor. Dessa forma, antes de sair publicando qualquer fato, o jornalista deve primeiro parar e analisar o que realmente aconteceu, por que aconteceu e quem de fato esteve envolvido, para não prejudicar pessoas inocentes.
E para terminar, um elogio ao roteiro bem elaborado, que misturou romance, drama e suspense. Mais uma coisa: bem bolado a escolha do nome da personagem principal; uma contradição, já que ela, de angelical, só tem a carinha e o nome...

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Notas rápidas sobre o elenco: Amélie Tatou é a mocinha de O código Da Vinci, e Samuel Le Brahin é o protagonista de O pacto dos lobos. O primeiro filme vá lá, mas o segundo... nem tanto. Vejam e comprovem.