Oitava Colina

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10/04/2006

Dica de leitura


Nesta semana, o SBT começou a reprisar uma minissérie norte-americana de 1983, série esta premiada e aclamada por público e crítica. E, como é uma adaptação de uma obra literária, eis aí um trecho original para vocês sentirem do que se trata:

"Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro-alvar, e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia e despende um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro pára para ouvi-lo, e Deus sorri no céu. Porque o melhor só se adquire à custa de um grande sacrifício... Pelo menos é o que diz a lenda."

E assim se inicia Pássaros Feridos (The thorn birds, 1977), da escritora australiana Collen McCullough, romance que dá nome à minissérie. Nesses tempos de meios de comunicação eletrônicos fica até meio careta dizer isso, mas ainda acho que o original é melhor, e melhor ainda quando é em livro. Na qualidade de professora de Literatura, claro que eu iria dar um conselho desses, mas como leitora eu recomendo Pássaros Feridos porque não é somente uma história de um padre e uma moça que se apaixonam (sim, resumindo a grosso modo, o tema é quase este), mas uma análise de diferentes sentimentos humanos que se desafiam e marcam profundamente a vida dos personagens: amor e interesse, paixão e celibato, verdade e segredo, simplicidade e ambição, enfim, um drama que perdura por gerações e cria finais felizes e infelizes.
E, para fechar a minha opinião, e também para dar uma água na boca sobre o livro - se bem que a minissérie é uma adaptação fiel do romance, não condeno quem quiser assistir - o trecho mais significativo da narrativa:

"O pássaro com o espinho cravado no peito segue uma lei imutável; impelido por ela, não sabe o que é empalar-se, e morre cantando. No instante em que o espinho penetra não há consciência nele do morrer futuro; limita-se a cantar e canta até que não lhe sobre vida para emitir uma única nota. Mas nós, quando enfiamos os espinhos no peito, nós sabemos. Compreendemos. E assim mesmo o fazemos. Assim mesmo o fazemos."

Triste isso, mas é verdade...
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Na biblioteca da Uniube tem alguns exemplares desse romance. Leiam, quando puderem. E não se esqueçam de separar alguns lencinhos...

1 Comments:

At 4:50 PM, Blogger Nanael Soubaim said...

Nem sempre o espinho se presta ao canto, mas tantas vezes ao mais sublime silêncio que a solidão voluntária pode propiciar. Morre-se, mas renasce-se em seguida, às custas da consumação da dor que dilacera a paixão que te prendia o coração. E voltamos a caminhar.
Não nos tornamos anjos sem os três cravos e a coroa de espinhos.

 

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